Gramado preto e branco: Futebol sem preconceito.

Se os esportes não são independentes em relação à sociedade na qual eles se desenvolveram e seus valores são atualizados em conformidade com a estrutura social em que estão inseridos, pergunta-se: que significados assumiram as partidas de futebol entre jogadores autodeclarados pretos e brancos que ocorreram em São Paulo, 39 anos após a formalização do fim da escravidão, na comemoração do dia "13 de Maio" entre os anos de 1927 e 1939?

Entende-se por racismo no futebol é qualquer prática racista (normalmente xingamentos ou algum outro tipo de sinal) realizada em campo durante alguma partida de futebol ou ainda nas arquibancadas, direcionada a algum dos participantes diretos da partida. Isso tende a acontecer com certa facilidade mesmo havendo a pressão da mídia e da sociedade contra esses casos porque o futebol é um esporte que facilmente une pessoas de todas as "raças", considerando-se principalmente afrodescendentes e euro descendentes. Apesar de estar voltado para uma situação em particular o jogo de futebol, é considerado como racismo normal e punido da mesma forma que qualquer outra manifestação racista contra a pessoa.

Um livro em língua portuguesa que trata da temática do racismo no futebol é O Desporto e as Estruturas Sociais de Esteves (1967). Este escritor português desenvolve, no capítulo "O Negro e o Desporto", reflexões que posteriormente seriam ampliadas em outro livro: Racismo e Desporto (1978), no qual destaca os aspectos do racismo desportivo no Brasil.

A primeira tese de doutorado que vai tocar diretamente na questão do racismo no futebol brasileiro é o trabalho de Silva (2002), intitulado Futebol, Linguagem e Mídia: Entrada, Ascensão e Consolidação dos Jogadores Negros e Mestiços no Futebol Brasileiro. Além de ratificar as conclusões demonstradas no artigo A linguagem racista no futebol brasileiro, Silva apresenta um tópico inédito até então. Em sua conclusão, introduz uma discussão sobre as estruturas de dominação que dificultam a ascensão dos treinadores negros no Brasil. Nas entrevistas que realizou com jornalistas, ficou evidenciado que os negros têm muitas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho de treinadores de futebol.

Na Rússia em 2008, o clube de São Petersburgo foi notificado por novos insultos racistas, direcionados a jogadores do Olympique de Marseille André Ayew, Ronald Zubar e Charles Kaboré foram as vítimas da torcida do Zenit, que chegou a imitar macacos e atirar bananas cada vez que algum dos três pegasse na bola. Mais tarde, o técnico Dick Advocaat admitiu que os torcedores do Zenit são mesmo racistas. Mathieu Valbuena quase foi alvo de preconceito dos torcedores, que pensavam que ele também era negro. O camaronês Serge Branco, com passagem pelo Krylya Sovetov, foi outro que acusou o Zenit de racismo.

Na América do Sul houve incidente diplomático em abril de 2005, o atacante brasileiro Grafite foi chamado pelo argentino Leandro Desábato, então no Quilmes, de "macaco". Desábato ficou detido por 40 horas, e ao deixar a delegacia, foi extraditado.

O caso do volante Gabriel Tiné, de 16 anos, que foi chamado de macaco, em português, pelos juvenis do Juventus da Itália trouxe à tona um tema desagradável e recorrente no futebol, o racismo.

O ex-jogador Edmundo utilizou o Facebook para desabafar: Lamentável o que aconteceu na Itália com a equipe sub-16 do Vasco contra o Juventus. Como é vergonhoso descobrir que ainda existem atos de racismo dentro de esportes tão tradicionais. Joguei na Itália e repudio qualquer ato desse tipo. Inclusive, defendo punições graves e espero que o preconceito acabe no futebol, nas ruas e no mundo. Absurdo! Apesar de tudo, parabéns pela vitória, Vasco!!!

Perseguido por parte das pessoas presentes no estádio, o meia Kevin-Prince Boateng interrompeu a partida ainda no primeiro tempo e deixou o gramado, sendo acompanhado por seus companheiros e também pelos atletas do time rival.

A linguagem futebolística geralmente é vista de maneira preconceituosa pela sociedade, sendo considerada pobre ou carregada de vícios. O grupo específico dos jogadores é alvo frequente da discriminação, porque quase sempre tem baixa escolaridade. Contudo, todo grupo linguístico traz suas contribuições para a língua, auxiliando na construção e evolução da sociedade. O esporte constitui um amálgama social, por possibilitar relações entre as diferentes camadas sociais. No caso do futebol, pode-se dizer que as contribuições são várias, pois possui características e particularidades expressas por meio de termos e expressões criativas originárias de outros idiomas e da própria Língua Portuguesa, que enriquecem o léxico e que se incorporam à língua rapidamente.

A expressão racismo no futebol é empregada de forma tecnicamente equivocada, porque o que é assim classificado pela mídia se trata, na verdade, do crime de injúria qualificada, definido no artigo 140, § 3º, do Código Penal Brasileiro, e não do crime de racismo, prescrito na lei 7.716 de 1989.


 



Alunos(a): Débora Sena, Railan Lima, Breno