Livre para pedalar


Vista só como ''Coisa de homem'' , a bicicleta acabou fazendo muito pela história feminina.

A líder feminista americana Susan Anthony , parece se referir à pílula anticoncepcional ou a alguma outra coisa que possa ser facilmente identificada com a emanicipação feminina com esta frase :

'' Ela tem feito mais para emanicipar as mulheres do que qualquer outra coisa no mundo ''

Mas ela trata simplesmente da famosa bicicleta . No começo do século XX , esse belo veículo com duas rodas teve um papel muito mais importante do que costuma crer na luta pelos direitos das mulheres , dando a elas a capacidade de irem sozinhas de um lugar a outro , e ajudando a enterrar as antigas roupas que diicultavam seus movimentos.

Quando as primeiras mulheres começaram a pedalar , muitas pessoas não aprovavam o novo hábito.  

Alguns médicos achavam que essas atividades fariam muito mal a elas.

Para o médico Phillipe Tussié , era atividade poderia causar até abortos ou esterilidade. Houve na medicina quem pensasse diferente , como também o francês Ludovic O'Followell , atestava que o ciclismo contribuia muito para a saúde e não era perigoso para a maternidade.

Tinha até médico que julgava a bicicleta indecente , porque daria prazer à mulher na fricção do selim em suas partes íntimas.

Mas O'Followell rebateu esse argumento , ele disse que algumas jovens poderiam realmente sentir prazer ao paladar , mas não se tratava de um problema de artefato , e sim daquelas '' poucas honestas'' , que faziam mau uso também de outros aparelhos.

O'Followell  disse em seu trabalho :

'' Se , por azar, um passeio de bicicleta revela à ciclista uma nova satisfação genital , não é necessário concluir que a bicicleta cria depravadas. De resto , em investigação conduzida por nós com o propósito deste trabalho , foram negativos todas as respostas à pergunta : Sentem algum prazer de ordem íntima quando pedalam ? Não é necessário , portanto , acusar a bicicleta , mas sim a ciclista ''.

As francesas e americanas foram as primeiras a se interessar pela atividade , ainda no final do século XIX. As bicicletas da época já tinham um formato mais parecido com a atual e não lembravam tanto seus antecessores , os velocípedes , criados em 1863 pelos irmãos franceses Pierre e Ernest Michaux.

Médicos diziam que a bicicleta podia levar a mulher a abortar ou deixá-la estéril , e que a fricção do selim nos órgãos genitais femininos era indecente.

A americana Elizabeth Staton disse : ‘’ A mulher está pedalando em direção ao sufrágio por se tratar de um direito que mais tarde seria conquistado.

A presidente da Liga Francesa dos Direitos da Mulher , Maria Pognon , afirma que a bicicleta é ‘’ igualitária e niveladora ‘’ e ajuda ‘’ libertar o nosso sexo ‘’. Entre os americanos , o ciclismo ficou ligado à figura da New Woman , que contestava os tradicionais papéis femininos envolvendo-se com movimentos reivindicatórios , principalmente pelo direito de voto.

Algumas pioneiras tentaram fazer carreira no ciclismo esportivo , mas essas iniciativas foram reprimidas e a organização de competições femininas foi proibida.

Para se manterem ativas e continuarem reivindicando a participação em campeonatos , as mulheres se envolveram , então, em desafios de distâncias e velocidade.

Em 1894 , a americana Annie Kopchovsky decidiu aceitar o desafio , lançada por dois clubes masculinos de Boston , de dar a volta ao mundo em cima de uma bicicleta.

No Brasil , onde as primeiras bicicletas começaram a ser importadas em escalas comercial na década de 1890 , também são poucos os registros de participação feminina em competições de ciclismo.

No dia a dia , nos momentos de lazer , americanas e europeias já davam suas pedaladas com mais frequência. Elas se valiam das bicicletas para se locomover melhor , aumentar sua presença no espaço público , ir contra as normas sociais ou simplesmente se divertir.

No Brasil , onde a influência francesa era muito forte na transição para o século XX , e principalmente nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro , também havia mulheres circulando sobre duas rodas com os mesmos objetivos das estrangeiras , ainda que em menor número. Afinal , o preço da bicicleta era bastante alto no país , o que restringia sua aquisição aos mais ricos.

A edição da revista paulistana A Bicycleta: Semanário Cyclistico Illustrado de 12 de junho de 1896 dá uma mostra do que se esperava de uma ciclista mulher.

Entre as mudanças nos hábitos femininos causadas pelo ciclismo está a distensão nas roupas , como o fim do uso do incômodo espartilho , peça que dificultava ou mesmo impossibilitava o ato de pedalar. O doutor O’Followell condenava o espartilho com veemência , pois agredia a anatomia feminina , trazendo prejuízos à saúde. Na medida que o tempo passou o uso da bicicleta foi se tornando mais comum , as mulheres passaram a usar a roupas mais justas e curtas.

Em matéria na edição de 2 de setembro de 1900 do Jornal do Brasil , a correspondente na França , Marguerite Saint Gene , mostrava , em cinco ilustrações detalhadas , a grande novidade que eram as roupas usadas pelas parisienses para pedalar. Apesar disso , abandonar os espartilhos e as roupas pesadas ainda era uma realidade distante para as brasileiras , e mesmo para as francesas , algo que só ocorreu no decorrer do século.

Apesar da desconfiança masculina , o envolvimento das mulheres com o ciclismo foi irreversível , um retrato dos avanços da época e , ao mesmo tempo , um argumento para ampliar a presença feminina no espaço público. Se a prática foi resultado de um processo de reivindicação , também foi estimulada por um mercado de entretenimento que começava a surgir numa sociedade marcada pelas ideias de espetáculo e consumo. Foi um ponto de partida para que , anos mais tarde , elas conquistassem também seu espaço como atletas nas competições esportivas.



    New Woman, referente às mulheres.


   Ajudou as mulheres a se livrarem de um espartilho.





Criadores da matéria , em ordem alfabética :

Caio Santos Marques Silva
Thaissa Gabriela Costa Santos

Thiago Douglas Costa Matos