Após séculos de um processo de homogeneização destruidora, como
resultado da conquista, colonização, escravidão e dominação, o Brasil
ensaia um novo descobrimento e um novo processo: incorporar sua
diversidade. É apenas uma tendência, mas certamente uma vigorosa
manifestação de vida e possibilidades, intimamente associada a resistências
e lutas que, nas últimas décadas, vêm alimentando a própria
democratização do Brasil. Dado o vigor da ideologia civilizatória que
presidiu a nossa contraditória formação histórica, temos dificuldades
em nos reconhecer como uma sociedade multiétnica, multicultural e
multilinguística. Os povos indígenas e a questão indígena brasileira
têm um lugar fundamental nesse processo.
O pano de fundo é esse, mas apresente a publicação se atém a um aspecto de resistência, redescoberta e reerguimento dos povos indígenas como ativos atores de um Brasil diverso, democrático e sustentável neste
começo de século. Trata-se da disputa por escola e educação indígenas.
Parafraseando Paulo Freire, trata-se da prática da diversidade como
condição de identidade, liberdade e cidadania dos povos indígenas. E
ela se faz no resgate da suas línguas e de suas culturas, pelo controle do
território e pela transformação da escola.O contexto é de muitas ameaças, a destruição não acabou.
A violência
contra os povos indígenas, a invasão de suas terras e a usurpação de
suas riquezas continuam. Mas temos um marco fundamental inscrito
na Constituição de 1988 e uma mudança em curso nas próprias comunidades
indígenas. A escola bilíngue indígena tem muito a ver com os
ventos da mudança, de afirmação do direito às próprias culturas.
Os estudos aqui reunidos procuram fazer o elo entre o passado e o
futuro dos remanescentes de povos indígenas no Brasil, tendo a educação
escolar indígena como fio condutor. Mais do que um balanço da questão,
este livro convida à reflexão sobre as possibilidades e os desafios presentes,
os quais fazem parte de um desafio maior: construir um país sem
exclusões, com valorização de nossa diversidade. Lendo os textos, somos
inevitavelmente levados(as) a olhar e refletir sobre um lado profundamente
obscuro do que somos como sociedade. Mas, como bem salientam
os autores e as autoras, a resistência indígena se afirma por trás de tal
história. E essa resistência pode ajudar nossa reconstrução como sociedade
aberta, democrática, includente, que tira partido de sua diversidade. Produzido por : Jaime lopes, Giovani Matheus